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Sociedade Brasileira de Dermatologia - Regional São Paulo |
Riscos da supervalorização da estética
Dilhermando Augusto Calil (*)
A manutenção da saúde e beleza são legítimos anseios da humanidade. No entanto, a preocupação com a aparência tornou-se algo obsessivo. O Brasil é o segundo país do mundo que mais realiza procedimentos estéticos, atrás apenas dos Estados Unidos, e o terceiro mercado mundial em cosméticos. É preciso, no entanto, alertar a sociedade para os perigos que essa busca desenfreada pela beleza pode trazer.
Nos últimos 20 anos houve um rápido crescimento da Dermatologia no Brasil, com destaque para as áreas de cosmiatria e cirurgia dermatológica. Dentro e fora das universidades, respaldados técnica e eticamente com seriedade e comprometimento, os dermatologistas brasileiros procuraram manter a Dermatologia como especialidade médica. Novos procedimentos e tecnologias foram incorporados no tratamento das mais de duas mil doenças de pele, o que permitiu aos especialistas em dermatologia fazerem os diagnósticos de forma mais precisa, adotando técnicas que oferecem um leque de tratamento jamais visto, e que vai desde o tratamento da calvície, acne, micoses, furúnculo, alergias, câncer da pele, hanseníase e doenças sexualmente transmissíveis, até a área estética, como cosmiatria, cirurgia dermatológica, peelings, preenchimentos, aplicação de toxinas botulínicas, fototerapia, laser, etc.
Ocorre que, recentemente, cursos e workshops de fim-de-semana – oferecidos por organizações não ligadas às entidades representativas reconhecidas pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e Associação Médica Brasileira (AMB) – estão formando pseudo-especialistas não médicos. Muitos profissionais não habilitados se arvoram na manipulação de equipamentos para tratamentos estéticos e aproveitam-se do desconhecimento e ingenuidade dos pacientes, que muitas vezes não sabem que tais tratamentos podem pôr em risco a sua saúde.
A busca por corrigir “imperfeições” da pele, pode encobrir o fato de que manifestações cutâneas podem ser decorrentes de doenças internas. Nessas situações, o dermatologista tem a necessária expertise para identificá-las e, conforme o caso, encaminhar o paciente para outros especialistas. Um problema aparentemente simples pode-se revelar grave e precisar de tratamento médico, não apenas de melhorar a aparência.
É o caso de doenças como diabetes, AIDS, deficiências nutricionais, doenças reumatológicas, da tireóide ou do aparelho digestivo e cânceres de órgãos internos. Elas podem produzir manifestações características na pele que, quando identificadas pelo dermatologista, contribuem para o seu diagnóstico. As infecções transmitidas por vírus (verrugas comuns, verrugas genitais, herpes etc), fungos (frieiras, micoses etc), bactérias (foliculite, furúnculo, erisipela), ácaros (sarna) e protozoários (leishmaniose) são outras possíveis causas para alterações na pele que precisam de tratamento específico. Uma das doenças de pele mais graves que pode estar escondida atrás de uma simples pinta é o câncer de pele.
Só um médico pode avaliar de forma precisa a necessidade do paciente, os riscos que ele corre, evitar alguma complicação durante o procedimento, indicar os melhores produtos para serem usados após o procedimento e fazer o acompanhamento do paciente. Afinal ele tem um compromisso ético a cumprir.
A população não pode aceitar que sua pele, cabelos e unhas sejam tratados de maneira equivocada por profissionais não médicos e não habilitados. É uma questão de saúde, não só de beleza.
(*) Dr. Dilhermando Augusto Calil é dermatologista e presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia Regional São Paulo (SBD RESP)
Texto publicado no jornal A Tribuna, de Santos, no dia 13/08/2008, pág. A 13. |
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