Sexta-feira, 25 de Janeiro de 2013 - 13h58

Chuva de crédito

Redução dos juros torna as compras financiadas mais atraentes para os clientes de altíssima renda.

Veículo: Isto é Dinheiro

Data de publicação: 25.01.2013

Controlador do grupo agrícola Bom Sucesso, com um faturamento estimado em R$ 1 bilhão em 2013, o empresário catarinense Eraí Maggi Scheffer é um dos maiores produtores de soja do Brasil. No fim de 2012, ele resolveu presentear-se com um avião para facilitar o deslocamento entre as fazendas que possui em Mato Grosso. Sua escolha foi um Cessna Citation CJ3, avaliado em R$ 18 milhões. A forma de pagamento? Suaves prestações. “Preferi financiar a compra da aeronave e deixar o dinheiro rendendo no banco”, diz ele, sem revelar valores. “Com o ganho dos investimentos, posso adquirir outros bens e melhorar o lucro da minha empresa, pagando menos pelos fertilizantes, por exemplo.”

Scheffer não é uma exceção. A queda recente dos juros vem estimulando os clientes de altíssima renda, tradicionalmente avessos a prestações, a comprar a crédito. Seus empréstimos, porém, passam longe do dia a dia das agências, e são obtidos por meio dos private banks. Os números do setor provam esse movimento. Segundo a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), até setembro de 2012 o valor emprestado pelos privates a seus clientes cresceu 33,2%, mais que o triplo dos 10,2% de crescimento dos empréstimos em geral. Atualmente, os clientes dos private banks carregam R$ 12,75 bilhões em dívidas. Por que alguém com dinheiro de sobra se endividaria? Simples.

Na ponta do lápis, os juros que os endinheirados pagam nos empréstimos são menores do que os que eles recebem em suas aplicações financeiras, uma situação radicalmente diferente da que ocorre com a maioria dos mortais. “O cliente private funciona como uma empresa, e analisa se é mais barato usar o próprio capital ou dinheiro de terceiros na hora de adquirir algum bem ou investir em sua atividade”, diz Rogério Fernando Lot, diretor de private bank do Banco do Brasil (BB). Segundo o executivo, a queda da taxa Selic de 12,5% para 7,25% ao ano em pouco mais de 12 meses explica a corrida pelo crédito.

No ano passado, os clientes do private bank do BB contrataram R$ 6,4 bilhões em empréstimos, 80% a mais que em 2011. Quase 90% dessa demanda foi para o crédito rural, mas boa parte dos financiamentos destinaram-se a clientes que queriam comprar algum item caro, como é o caso de Scheffer. “O crédito do private é uma grande ferramenta para o agronegócio, pois a aprovação é rápida e as taxas são competitivas”, diz Scheffer, que é cliente do banco estatal. Além de financiar sua aeronave, o empresário garante ter conseguido boas taxas para estocar a soja, algodão e milho, em armazéns. “Assim posso vender na entressafra com melhor preço.”

Queda da Selic tornou os empréstimos mais baratos. Os clientes Private oferecem pouco risco de calote, e chegam a obter financiamentos com taxas abaixo do rendimento de suas aplicações

TAXAS CAMARADAS Um bom exemplo das vantagens desses financiamentos é a aquisição de helicópteros, objeto de desejo de boa parte dos clientes private. Ao se cadastrar como empresas, eles podem ter acesso às taxas camaradas do BNDES, que oferece juros baixos para a renovação de máquinas e equipamentos. Segundo Artur Reno, executivo da fabricante de helicópteros Helibras, ao usar uma linha do Finame, por exemplo, o cliente pode comprar uma aeronave modelo Esquilo B2, que custa R$ 6 milhões, em até dez anos, pagando juros de 3% ao ano – e mais nada. “Cerca de 90% de nossas vendas, no ano passado, contaram com esse financiamento”, diz ele. A Helibras vendeu, em 2012, 28 helicópteros, 18 deles no Estado de São Paulo.

“Se não conseguir aprovar seu empréstimo pelo Finame, o cliente ainda pode recorrer ao leasing, que custa 1,5% ao mês”, afirma Reno. A expansão do crédito para a alta renda também serve para compras mais corriqueiras, como as de automóveis e imóveis – de luxo, claro. Quando se fala em financiamento imobiliário, a primeira imagem que surge na mente é a de habitações populares. No entanto, quem mora em imóveis de alto padrão também vem se aproveitando das taxas menores. “Tivemos um caso de um cliente que trocou a mansão de R$ 25 milhões, por outra de R$ 45 milhões”, diz Maria Eugênia López, diretora do private bank do Santander Brasil. Maria Eugênia não revela as taxas e os prazos praticados pelo private, mas o fato de os clientes apresentarem um baixo risco de inadimplência torna os bancos mais camaradas.

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